Nascido num dia azul é uma história exemplar de sucesso pessoal, que começa na primeira infância, quando Daniel Paul Tammet [31.01.1979-] era incapaz de fazer amigos, até à idade de jovem adulto, em que adquiriu um suficiente auto-controlo que lhe permite viver de forma autónoma e independente. O livro proporciona uma comovente e encantadora viagem, guiada pelo próprio autor, ao interior de uma das mais fascinantes mentes dos dias de hoje. Daniel Tammet tem diagnosticado a Síndrome de Savant, uma forma rara da Síndrome de Asperger, ou autismo de alto rendimento funcional, com manifestações clínicas positivas, tais como uma impressionante capacidade de cálculo mental [A partir da minha imagética mental, sou capaz de calcular um resultado como 13:97=0.1340206..., até quase uma centena de casas decimais] e uma aptidão mnésica simplesmente deslumbrante [em 2004, a 14 de Março, Dia Internacional do Pi, memorizou e recitou, ante as câmeras de televisão, em 5 horas e 9 minutos, 22514 dígitos do número Pi, estabelecendo um novo recorde]. Daniel visualiza mentalmente os números como formas, dotados de cores e texturas próprias [fenómeno caracterizado por uma mistura neuro-sensorial denominado por «sinestesia»: O número 1, por exemplo, é de um branco brilhante e claro, como se alguém agitasse uma lanterna em frente dos meus olhos. O 5 é um estrondo de trovão, ou o som das ondas a embaterem nas rochas. O 37 é granuloso como os cereais, enquanto que o 89 me lembra neve a cair]. Daniel Tammet fala actualmente 10 línguas: inglês, finlandês, francês, alemão, lituano, esperanto, espanhol, romeno, galês e o islandês, que aprendeu numa semana.
A Síndrome de Savant [a expressão inicialmente proposta, em 1978, por Bernard Rimland, foi de Autistic Savant, num artigo publicado na revista Psychology Today], perturbação psíquica que, comummente, alia grandes habilidades intelectuais a um défice da inteligência, foi citada na literatura científica em 1789, quando o psiquiatra norte-americano Benjamin Rush [1745-1813] descreveu o incrível talento calculatório de Thomas Fuller, que de matemática pouco mais sabia do que contar. No entanto, em 1887, John Langdon Down, que identificou a Síndrome conhecida com o seu nome, descreveu 10 pessoas com a Síndrome de Savant, com as quais manteve contacto ao longo de 30 anos no Earlswood Asylum, em Londres, tendo, à data, utilizado o deselegante termo idiot savant, para identificar a Síndrome. O desenvolvimento da neuroimagem funcional e os recentes estudos de Bernard Rimland, do Autism Research Institute, em San Diego, Califórnia, com informações sobre 34 mil indivíduos autistas, têm vindo a corroborar a tese dos processos de compensação neurofisiológica contralateral, sendo as habilidades savants presentes em pessoas autistas, mais frequentemente associadas às funções do hemisfério direito, incluindo a música, a arte e a matemática, verificando-se um maior compromisso das habilidades relacionadas com as funções hemisféricas esquerdas, tais como a linguagem e a especialização da fala.
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